6 de agosto de 2012

o nojo do açúcar do afeto



Nós duas, Silvia, somos capazes de fazer bolos incríveis. Eu entendo a violência que se investe contra a farinha e o fermento. Cada fornada é uma fagulha da impotência. Assam-se bolos para sublimar a vontade de estarmos, nós mesmas, dentro do forno. À temperatura média alta. Sempre que penso no tempo perdido nos pequenos afazeres me sinto mais e mais engolfada. Não são as tarefas que me consomem. Sou eu quem as consumo com voracidade. Dissipando a força, desloco os pedaços da minha angústia. Sempre esse Eu que me insiste. Tenho vergonha da palavra. Não sei articular forte o bastante. Por isso, tudo o que digo quero envolto em nuvens de ruídos. Sinto-me dúbia e quero-me nua. Estou há muito tempo entupida. O que se vê em mim se estou oca e mofada?



2 comentários:

  1. Curioso como essa dúvida tem uma força incrível, dá medo em quem lê. E dá vontade de voltar pra ler mais.

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