Nós
duas, Silvia, somos capazes de fazer bolos incríveis. Eu entendo a
violência que se investe contra a farinha e o fermento. Cada fornada
é uma fagulha da impotência. Assam-se bolos para sublimar a vontade
de estarmos, nós mesmas, dentro do forno. À
temperatura média alta. Sempre que penso no tempo perdido nos
pequenos afazeres me sinto mais e mais engolfada. Não são as
tarefas que me consomem. Sou eu quem as consumo com voracidade.
Dissipando a força, desloco os pedaços da minha angústia. Sempre
esse Eu que me insiste. Tenho vergonha da palavra. Não sei articular
forte o bastante. Por isso, tudo o que digo quero envolto em nuvens
de ruídos. Sinto-me dúbia e quero-me nua. Estou há muito
tempo entupida. O que se vê
em mim se estou oca e mofada?
Curioso como essa dúvida tem uma força incrível, dá medo em quem lê. E dá vontade de voltar pra ler mais.
ResponderExcluirhá! fiquei feliz com isso.
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