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Outro dia, li uma entrevista com o Alan Pauls (aliás, como vai a leitura de O Passado?) em que o escritor falava sobre a necessidade de ser intenso na cultura argentina:
"A imagem do tango, para os estrangeiros, não é de quem chora, é de quem vive intensamente. Mas o tema do tango é a anunciação da vítima, do homem abandonado, traído. E se vende o tango, que é uma cultura da vítima, como uma cultura da intensidade. Dito isso, chegamos a uma relação interessante que nos leva a perceber que, para nós, argentinos, a única forma de ser intensos seria sendo vítimas. Talvez os brasileiros tenham essa mesma relação. Talvez o único momento em que o brasileiro pode ser intenso é quando ele é feliz."
Quando li esse trecho, imediatamente, me lembrei de você e o quanto um relacionamento relâmpago me fez refletir sobre o que é ser intenso. O que sobra da intensidade? A fugacidade do intenso-rápido-corrosivo é suficiente para transformar o passado (ah, sempre o passado, sempre a polissemia da palavra...) em lembrança? Qual é o lugar da lembrança se não o presente? Daí que o problema do passado é o presente. E no interior do meu passado-presente relacionado à você se encenam essas questões. Não, não busco respostas, não busco explicações. Nada disso, apenas um interlocutor. Apenas uma busca por restos, sobras, arestas pontudas que, às vezes, inadvertidamente insistimos em bater com o dedinho, quando estamos distraídos. Sempre quando distraídos...
Pouco importa o quanto eu não consegui sair da nossa interação imune à você, ao que você representa[ou]. Não me peça definições, a única coisa que posso dizer é que com você e por você eu aprendi que me virar de ponta cabeça pode ser uma experiência mortal. Dançamos um tango sem vítimas aparentes, talvez essa seja uma boa metáfora. Me deixei ser revirada, abri, para você, muito mais do que as portas da minha intimidade.
Você verificou se fechou a porta atrás de você com cuidado?
Com carinho.
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